Parques do Brasil: expedição ao Parque Estadual do Ibitipoca
Rio Vermelho antes da Janela do Céu. Imagem: Carlos Sanches
Após dois anos da última gravação e do momento mais crítico da pandemia do Covid-19, a equipe da série Parques do Brasil iniciou a gravação da quarta temporada, que trouxe novidades e inúmeros desafios. Entre as novidades, a produção de imagens integralmente no sistema 4K. Anteriormente, somente as imagens de drone eram neste sistema. Outra novidade foi a inclusão de parques estaduais. Até agora a série só havia apresentado unidades de conservação federais. O principal desafio desta temporada, pelo menos neste início, é incorporar ao modus operandi da produção os cuidados com a pandemia.
No dia 16 de novembro, após quatro horas e meia de viagem, a equipe chegou à Conceição do Ibitipoca, um distrito do município de Lima Duarte, no sul de Minas Gerais. O objetivo era registrar ecossistemas e espécies do Parque Estadual do Ibitipoca, uma das UCs mais visitadas do estado. Apesar dos seus 1488 hectares (1.516 em novos cálculos), apresenta uma rica biodiversidade, além de cachoeiras, grutas e diferentes fitofisionomias de Mata Atlântica. Englobando os trechos mais altos da Serra do Ibitipoca (parte do Complexo da Serra da Mantiqueira), com altitudes que variam entre 1100 e quase 1800 metros, o parque é composto por campos rupestres (incluindo campos arenosos), matas de candeias (Eremanthus erythropappus), cerrados rupestres (uma formação de transição que apresenta várias espécies do Cerrado), floresta ombrófila densa montana e matas nebulares.
O parque fica no divisor de águas das bacias dos rios Paraíba do Sul e Grande. Na primeira parte da expedição nos dedicamos a percorrer um circuito que acompanha o rio do Salto, que nasce dentro da unidade, percorrendo 5 km no seu interior até sair e desaguar no rio do Peixe, afluente do Paraibuna e da bacia do Paraíba do Sul. Um dos grandes atrativos da unidade são os poços e as cachoeiras que esse rio de águas avermelhadas forma ao descer por vales encaixados e cânions, como a espetacular Cachoeira dos Macacos.
Além da beleza cênica, passamos por trechos de campos rupestres e matas ciliares, onde avistamos diferentes espécies de aves, como o tico-tico (Zonotrichia capensis), a maria-preta-de-garganta-vermelha (Knipolegus nigerrimus), o canário-da-terra (Sicalis flaveola), sabiás (Turdus sp.) e o periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalma).
Após a passagem de uma frente fria, que diminuiu consideravelmente a nossa produção durante alguns dias, seguimos pelo circuito que leva ao alto do Morro do Pião. No caminho passamos por um candeial e pela Mata Grande, a maior formação florestal do parque, composta por uma Floresta Ombrófila Densa Montana. Nesse circuito, conhecemos outras belas quedas d’água do rio do Salto, como a Cachoeira do Encanto. Aqui também encontramos várias espécies de aves, entre elas o sanhaço-frade (Stephanophorus diadematus). Após a subida cansativa do Pião, passando por matas nebulares e campos rupestres, visitamos a Gruta dos Navegantes, uma das 14 cavernas de quartzito do parque. Na entrada dela observamos uma formação florestal exuberante, marcada pela presença de bromélias e outras epífitas.
Na parte final da expedição, atravessamos o Morro da Lombada, o ponto mais alto da unidade com 1784 metros de altitude. Era bem cedo e as nuvens nos possibilitaram belas imagens desse campo de altitude. Na trilha encontramos pegadas de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e de cachorro-do-mato (Cerdocyon thous). Além disso, observamos fezes, que possivelmente foram produzidas pelo lobo, que tem o costume de deixá-las em pontos estratégicos para marcar o seu território. Devido ao grande número de visitantes todos os dias, a visualização de mamíferos é bastante difícil.
Descemos o morro e seguimos em direção à famosa Janela do Céu, praticamente encoberta pela cerração. Nesse trecho encontramos o rio Vermelho, contribuinte da bacia do rio Grande. Antes de descer a escarpa da serra e sair do parque, esse rio forma belas quedas d´água, como a Cachoeirinha.
Voltando, passamos por campos arenosos marcados pela presença do cacto Arthrocereus melanurus subsp. magnus, uma subespécie Em Perigo de extinção, com habitat restrito à Serra do Ibitipoca e à Serra Negra. À tarde, nuvens carregadas anunciavam a chegada de mais uma frente fria. Apertamos o passo, mas não deixamos de registrar o vale que descemos.
Por conta das chuvas, o tempo foi curto para explorar com mais detalhe o parque e suas espécies, mas ainda assim conseguimos percorrer todas as suas trilhas. Com o equipamento literalmente nas costas, subimos e descemos através de mais de 40 quilômetros e produzimos belas imagens. Como a que registramos bem cedo no parque, antes de voltarmos ao Rio de Janeiro.
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