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Carlos Sanches e Luciana Alvarenga | 16/01/2022

Parques do Brasil: Expedição ao Parque Estadual de Itaúnas

Praia, restinga e rio Itaúnas. Imagem: Luciana Alvarenga

Na segunda expedição da quarta temporada da série Parques do Brasil, seguimos para o norte do Espírito Santo, praticamente na divisa com o estado da Bahia. Após um dia e meio de viagem marcado pela chuva, começamos a explorar o Parque Estadual de Itaúnas no dia 8 de dezembro. O tempo estava extremamente instável e um ciclone extratropical no sul da Bahia trouxe muita umidade do mar, provocando chuvas fortes e intermitentes durante vários dias.

Praia de Itaúnas com nuvens carregadas de chuva. Imagem: Luciana Alvarenga

O Parque Estadual de Itaúnas fica no distrito homônimo, no município de Conceição da Barra. Possui 3.481 hectares e protege 34 km do rio Itaúnas, restingas herbáceas, arbustivas e florestais, alagados, mangues, dunas, e, uma pequena área de mata de tabuleiro.

Alagado. Imagem: Luciana Alvarenga

A região entremarés marca os limites da unidade no litoral, mas a zona de amortecimento se estende até 2 km mar adentro. No interior, o parque é delimitado por extensas monoculturas de eucalipto (da antiga Aracruz Celulose, hoje pertencente à Suzano), algumas plantações de coco (e outras culturas) e poucas áreas naturais remanescentes.
Além de uma surpreendente biodiversidade, o parque guarda sítios arqueológicos e a história da antiga Vila de Itaúnas, que devido ao desmatamento da restinga, foi soterrada pelas dunas e teve que migrar para a outra margem do rio. A vila possui intensa atividade cultural e a região é rica em lendas e mitos.

Dunas. Imagem: Luciana Alvarenga

Nos três primeiros dias, após duas reuniões com a equipe do parque trabalhamos no intervalo das chuvas, explorando as matas ciliares do rio Itaúnas, uma área de restinga arbustiva fechada, as dunas e o pequeno trecho de mata de tabuleiro que o parque protege. Nessas incursões, produzimos imagens do ciclone extratropical, observamos um carcará (Caracara plancus) se alimentando dos restos de um peixe e um casal de periquitos-rei (Eupsittula aurea). Na beira do rio encontramos um pequeno bando de saguis-de-cara-branca (Callithrix geoffroyi), uma espécie de primata endêmica do Brasil, que habita o Espírito Santo, o leste de Minas Gerais e o sul da Bahia.

Sagui-de-cara-branca (Callithrix geoffroyi). Imagem: Carlos Sanches

No quarto dia, percorremos uma trilha que acompanha o rio Itaúnas e atravessa uma restinga florestal. Nesse ambiente, observamos muitas espécies de aves, entre elas a saíra-beija-flor (Cyanerpes cyaneus), o corrupião (Icterus jamacaii), o saí-azul (Dacnis cayana), o tiê-sangue (Rhamphocelus bresilius) e o tangará-príncipe (Chiroxiphia pareola). Além de considerável diversidade de espécies, o parque possui uma quantidade de aves bastante notável, em todos os ambientes visitados.

Tangará-príncipe (Chiroxiphia pareola). Imagem: Carlos Sanches

Nos dois dias seguintes, fomos para a trilha das Borboletas, que corta o interior perto dos limites da unidade. Essa trilha atravessa áreas de restinga arbustiva aberta, trechos de restinga florestal e o entorno de um grande alagado. Nesse local, encontramos também muitas espécies de aves, entre elas a choca-listrada (Thamnophilus paliatus) e uma família de carrapateiros (Milvago chimachima).

Choca-listrada (Thamnophilus paliatus). Imagem: Carlos Sanches

Aproveitando uma breve estiagem seguimos até o limite norte do parque, onde gravamos a foz do Riacho Doce, curso d’água que marca a divisa dos estados do Espírito Santo e da Bahia.

Foz do Riacho Doce dividindo os estados do Espírito Santo e da Bahia. Imagem: Luciana Alvarenga

No mesmo dia à tarde, percorremos a trilha do Buraco do Bicho, que termina em outro conjunto de dunas, local onde existem sítios arqueológicos e a lenda de um monstro. O tempo voltou a ficar ruim, prejudicando bastante a produção de imagens. De maneira geral, as condições climáticas prejudicaram bastante as gravações. Embora dezembro seja historicamente o mês mais chuvoso na região, este em especial suplantou bastante os anteriores. E quando não havia chuva, um vento nordeste muito forte impedia o voo do drone e atrapalhava até a gravação com a câmera no tripé. Além disso, a expedição ainda enfrentou um surto de gripe e o retorno de casos de Covid-19 na vila. Esses fatores somados acabaram por adiar algumas gravações importantes, como as do rio Itaúnas, que ficaram agendadas para o primeiro semestre de 2022.

Ciclone extratropical. Imagem: Luciana Alvarenga

Nos dois últimos dias da expedição o tempo ficou um pouco mais firme e conseguimos produzir bastante. Tivemos até um encontro com um tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), em plena atividade diurna de procura por alimento.

Tatu-galinha (Dasypus novemcinctus). Imagem: Carlos Sanches

Fizemos também belas imagens das dunas, da restinga e da vegetação pós-praia, dominada pela palmeira guriri (Allagoptera arenaria). Nesse ambiente observamos vários casais de sabiás-da-praia (Mimus gilvus).

Sabiá-da-praia (Mimus gilvus). Imagem: Carlos Sanches

Apesar da bonança climática repentina, já era hora de retornar. E o tempo voltou a ficar severo novamente justamente no dia da viagem, realizada praticamente sob chuva de moderada a forte.

Praia com sol. Imagem: Luciana Alvarenga

 

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